Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Seg, 19 Mai 2014 - 15:09 Assunto: Mwangolé Surf
Olá a quase todos,
O que haverá para vos dizer neste meu segundo ano por terras africanas e por conseguinte, ausência do Atitude?
Que apenas aí voltei duas vezes e surfei 3 dias numa delas. Que o mar tempestuoso do meu Oeste me obrigou a ir remar para o algarve e onde um último dia solarengo me deixou saudoso das direitas que não apanhava há mais de um ano. Que não tenho saudades das pesadas borrachas 4/3mm ou tão pouco de ter que levar porrada para remar para o outside.
Mas de PT, tal como eu estava, estarão vocês talvez fartos.
Querem saber alguma coisa daqui de Angola?
Não?
Cá vai na mesma:
A água é espetacularmente quente e dispensa o uso de qualquer wetsuit, pelo menos aqui na zona de Luanda e arredores. Mais a sul - província do Namibe (ex-Moçamedes para os mais saudositas) - já se sente a influência das águas provenientes da Namíbia e África do Sul não sendo portanto de estranhar a presença de alguns alfaiates. Registos de acidentes entre estes e surfistas não há - para já.
Existem apenas duas estações: cacimbo e chuvas/verão.
Na primeira a ondulação surge generosa e nos restantes meses escasseia um pouco obrigando a procurar picos mais a sul. As ondulações predominantes vêm de S/SW e controlam-se bem online.
A onda mais conhecida e frequentada é sem dúvida Cabo Ledo.
O ambiente é agradável embora já vão começando a aparecer as normais escaramuças provocadas pelo aumento generalizado do crowd... os que surfam algo e os que se entusiasmam e procuram aprender algo de novo.
Quando vim sózinho acampava de sexta a domingo e agora já com toda a família arrancamos ao sábado e ficamos por uma noite. Fogueira à noite e conversa serão afora com os recém conhecidos enquanto se partilham umas cucas.
Dizem tratar-se da praia onde melhor se vêm algas fosforescentes. Uma mistura entre Avatar e uma sopa no restaurante chinês - francamente maus os 2 a que fui: um em Talatona e outro em Cabinda.
O surf é excelente para aprendizes de feiticeiro mas como tal, satura os que já se põem em pé ao fim de algum tempo a frequentar o pico.
Assim que o mar sobe um pouco surgem outras opções - Queiróz e Buraco - e embora a envolvência não seja tão edílica, o tipo de onda compensa.
Quem aprecie matinais e não se importe de surfar com a água bastante mais suja pois fica imediatamente a Norte da foz do rio Kwanza e partilhar o areal com lixo e algumas varas de porcos - quase 41 anos de idade e é a 1ªvez que uso este termo qq coisa coletivo - poderá dar-se muito bem na Praia da Onça ou Miradouro da Lua se preferirem.
Em dias de flatada e se não tiverem programa à mão descem até ao Sumbe e procuram um pico chamado catanas. A única vez que fui no seu encalço surfei por mais de 5h só, a 2km da aldeia mais próxima com direito a sessão naturista - um fetixe que venho saciando de quando em vez desde tenra idade.
O quiver terá que ser adaptado:
- Pranchas mais grossas e pequenas com flutuação extra e... um longboard. A minha pequena chilli já passou o limite de milhas mas ainda vai dando para os gastos.
Na maior parte dos dias CLedo assemelha-se a Malibu mas para a esquerda e sem crowd quando comparados os spots. Aliás se queres aproveitar o surf angolano em todo o seu explendor obriga-te a surfar ocasionalmente durante a semana.
Quando andava a deambular pelo centro e interior do país volta não volta levava a prancha dentro da pick-up e regressava a Luanda via litoral tendo nesses dias sendo brindado com algumas sessões épicas com ondas edílicas, água tépida e ninguém no line up, surfando até à exaustão.
O surf em Angola assemelha-se ao nosso há duas décadas atrás o que para gajos saudosistas e demodées como eu funciona bem.
Não fora a questão dos vistos e da falta de apoio logístico e talvez se pudesse considerar este enquanto um dos destinos preferidos de muitos, goofies e marrequeiros principalmente.
Alguma dúvida disponham... que o livro só sai em Agosto!
Abreijos saudosos,
Rudas _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Ter, 20 Mai 2014 - 15:08 Assunto:
Saudosos abraços e agradecimentos a todos!
Nada de dúvidas relativamente a este país cheio de esquerdas compridas?
Quanto a fotos já não me lembro como se metem aqui pelo que aos interessados sugiro que dêm uma vista de olhos no meu FB... rudolfo valente ... todas as fotos em que estou sem fato, com 90kg e com data de 2013/2014 são certamente de cá! _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Oct 14, 2004 Mensagens: 4448 Local/Origem: Capakirra
Colocada: Ter, 20 Mai 2014 - 15:23 Assunto:
Ao melhor nível Rudas espero que a distância esteja a compensar a todos os níveis. Tenho ido fazer umas ao teu quintal natal para ver se está tudo no sítio...e está!
Registo: May 12, 2003 Mensagens: 4719 Local/Origem: Belém
Colocada: Ter, 20 Mai 2014 - 22:34 Assunto:
Ganda Rudas, brevemente (ou talvez assim não tão brevemente pois o agregado familiar aumentou) entro em contacto pois além de ter aí um dos meus melhores amigos com quem aliás partilhas o condomínio e os line ups angolanos também estou em vias de começar um projecto com essas ondas em mente.
A seu tempo falarei contigo
Grande abraço e vai deixando a malta com água na boca tanto pela descrição das ondas como pela qualidade dos textos! _________________ Surf Lisbon - House & School<div>www.surflisbon.com</div><div>info@surflisbon.com</div>
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qua, 21 Mai 2014 - 13:29 Assunto:
Caríssimos,
Bom receber novidades desse lado... !
@Thunder - Haja alguém para disfrutar do que Sta cruz tem de melhor para oferecer! Saudades das surfadas clássicas sem crowd e água fresca entre os de sempre ou sózinho...
@Copos - Venho sabendo de ti através do Tiko, com quem já não partilho condomínio pois mudei-me para um mais baratuxo! O gajo vem-se baldando fortemente ao surf mas sempre q estamos juntos o teu nome acaba por vir à baila e claro está... a tua veia marrequeira é realçada! PARABÉNS pelo herdeiro, já surfa?
Diversos: Segurança e meterial técnico em Angola.
Já fui mais vezes assaltado nos Coxos (duas) que em praias angolanas. Já ouvi mais relatos de malta amiga assaltada na Costa, Carcavelos e Peniche que irei ouvir relativamente a Cabo Ledo, Buraco ou Onça.
No entanto, o parágrafo em epígrafe não traduz que Angola é um país surfer ou tourist friendly. A polícia vê em nós uma maneira simpática de ganhar uma gasosa pois associam-nos ao capitalismo e aos refudidos do sistema. Isto não foi pensado para ser justo e tudo é passível de ter várias interpretações, algo semelhante ao que se vem passando há 4 décadas num país começado por P e acabado em AL. Aqui vamos a caminho pois só passou uma desde o fim da guerra mas lá chegaremos.
Dentro de água não há localismo na verdadeira ascenção da palavra. Entre pulas ou restantes expatriados há claro está, gente parva, como em todo o lado.
Material técnico
O Norberto Serafim, cujo cão alimentei por 3 semanas lá em minha casa no sentido de empranhar a minha cadela mas sem resultados práticos, abriu uma surfshop aqui em Luanda o mês passado.
Existe uma outra dedicada aos desportos radicais no único shopping digno desse nome sito em Talatona mas a escolha é reduzida.
Mas por aqui o mercado é + virado para as havaianas e totalmente dedicado a gente muito rica e/ou desesperada.
Não há fabrico de nada por cá e as tabelas de direitos aduaneiros foram mexidas em alta considerável em janeiro último no sentido de minimizar a importação e fomentar a produção nacional.
Portanto e até ver, a opção mais razoável é trazer o que se precisa. _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Sep 04, 2006 Mensagens: 1097 Local/Origem: Cidadão do Mundo
Colocada: Sex, 23 Mai 2014 - 11:51 Assunto:
Olá Rudas
Desculpa pela invasão aqui ao post, não vinha ao fórum há bastante tempo e muito mais se passou desde a última vez que aqui escrevi. Finalmente um post decente que nos faz ler do inicio ao fim.
Sou Eng. Civil, também do ISEL, e fiquei sem trabalho em Março deste ano. A empresa onde estive 3 anos a contratos de obra decidiu cortar pessoal por falta de trabalho e os que não estavam no quadro foram os primeiros a ir à vida.
Tenho estado a estudar alternativas, sobretudo fora do país. Confesso que Angola não me cativava muito, tinha uma ideia errada em muitos aspectos e queria um país onde pudesse continuar a surfar com relativa regularidade como faço aqui. Estou a ver que existe muito mais surf do que pensava.
Tenho duas ou três questões que se me puderes ajudar a compreender, agradeço imenso.
- Não sei qual é o sítio onde vives, mas do que ouvi falar de Luanda fiquei com uma imagem negativa. É tão mau como pintam?
- Para ir de Portugal para Angola, convém ir com contrato de trabalho com uma empresa Portuguesa certo? Qual o valor que pela tua experiência considerarias razoável para as despesas e para juntar algum dinheiro?
Grato pela atenção.
Um abraço
Zé _________________ Antes politicamente incorrecto que moralmente falso
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Seg, 26 Mai 2014 - 10:45 Assunto:
jamaica escreveu:
Olá Rudas
Desculpa pela invasão aqui ao post, não vinha ao fórum há bastante tempo e muito mais se passou desde a última vez que aqui escrevi. Finalmente um post decente que nos faz ler do inicio ao fim.
Sou Eng. Civil, também do ISEL, e fiquei sem trabalho em Março deste ano. A empresa onde estive 3 anos a contratos de obra decidiu cortar pessoal por falta de trabalho e os que não estavam no quadro foram os primeiros a ir à vida.
Tenho estado a estudar alternativas, sobretudo fora do país. Confesso que Angola não me cativava muito, tinha uma ideia errada em muitos aspectos e queria um país onde pudesse continuar a surfar com relativa regularidade como faço aqui. Estou a ver que existe muito mais surf do que pensava.
Tenho duas ou três questões que se me puderes ajudar a compreender, agradeço imenso.
- Não sei qual é o sítio onde vives, mas do que ouvi falar de Luanda fiquei com uma imagem negativa. É tão mau como pintam?
- Para ir de Portugal para Angola, convém ir com contrato de trabalho com uma empresa Portuguesa certo? Qual o valor que pela tua experiência considerarias razoável para as despesas e para juntar algum dinheiro?
Grato pela atenção.
Um abraço
Zé
Amigo Jamaica,
Primeiro que tudo e como disse ao Canhoto via mensagem, um dos propósitos do fórum sempre foi o de nos conhecermos e trocarmos experiências. Como em tudo, existem altos e baixos e por mim falo, ou participo nos projetos ou meto-me à distância. Não surfo convosco e não vou aos meetings pelo q como se diz na minha terra quem está fora racha lenha. Q o fórum está fraquito isso é um facto... mas alguns propósitos ainda vai servindo:
- isto tudo para dizer q 'invasões' não há!
O Busílis: Angola pá... vou editar um livro.
Acho q os 10 anos de fórum deram uma ajuda e alavancaram a coisa para a realidade. Chama-se 'Vem só - Manual para Jovens Desempregados Portugueses rumo a Angola' e espero que saia na segunda quinzena de Agosto.
Todas as tuas questões estão explanadas ao longo do livro pois estava na tua situação há dois anos atrás como bem sabes. Pesquisei na net e infelizmente a informação é demasiadamente baseada no diz que disse pelo que resolvi compilar tudo o que me ía na cabeça à época e escarrapaxar a cena com algumas mentiras pelo meio.
Mas como até sou um gajo porreiro cá vai:
1) Luanda. Tem coisas boas e más. Agora trabalho cá mesmo no meio da cidade. Que precisas saber? Más principais - não há infraestruturas - luz de gerador a maior parte do dia e zonas, esgotos a céu aberto em muitas ruas e água de cisterna pois a EPAL não garante o fornecimento contínuo. Trânsito caótico pelo q ando de vespa e Polícias à cata da gasosa. Não há lugar para estacionar. Cidade mais cara do mundo desde 2013.
Coisas boas: a ilha, o Mussulo, mulheres quentes e sensuais, temperatura, ritmo, alegria... etc, resmas de etc. Eu vivo fora a bem dos meus filhos... Talatona é a metrópole dos ricos. 15km e é outro mundo já na saída para as praias. Tudo funciona e está bem organizado. No entanto só de moto... de carro são sempre mais de 2h para cada lado.
2) Contrato de trabalho. Vale o q vale. Tens q te focar é nos vistos. São caros e difíceis de obter pelo q o q as empresas fazem é vires com um visto ordinário q legalmente não te permite exercer qq profissão remunerada. Dura um mês. Se sobreviveres renovas por mais 2 e vais a Portugal pedir o visto de trabalho q tem a duração de um ano. Escolheres a nacionalidade da empresa pouco ou nada te garante... eu trabalhei para uma do uruguai, andei com salários em atraso e sem qualquer visto uma temporada valente. Neste caso apenas precisas de ter sorte ou algum tipo de referência da firma em questão.
3 ) A lei de oferta e procura diz-me q quem está a vir agora sem qq tipo de conhecimento pessoal (via empresa recrutamento) está em maus lençóis. Andam a pagar o mesmo e menos do que eu recebia aí... 2000 a 2500eur. Aqui há meses conheci três engenheiros que lhes punham 1500eur em PT e 500usd aqui para despesas... Angola já não é o El Dourado de outrora pois há muita oferta de técnicos apesar de haver ainda muita procura dos mesmos. Ter um salário de 5000usd limpos por cá já é difícil hj em dia. E o euro cada vez vale mais o q é uma merda para nós portugueses... o q acontece é q as possoas aceitam o q lhes dão e vêm na esperança de cá estando conseguir algo melhor. No meu caso pessoal vim com um salário completamente acima da média e depois baixei-o para um ainda assim razoável a bem da estabilidade empresarial (agora recebo todos os meses) e para crescer tecnicamente estando num meio onde agora vou conhecendo mais gente influente e sucesso em Angola depende principalmente de uma boa performance tua - trabalha-se muito mais que aí - e dos contactos que vás angariando.
4) para viver cá... moços solteiros ficam nas 'Guest Houses' das empresas. Podem ser boas ou más, depende da política da mesma. Normalmente andam em transporte conjunto - carro para 4 - ou minivan. Comida é geralmente uma cozinheira e ao fds orientam-se. As compras saem sensivelmente ao dobro daí e os restaurantes podem chegar facilmente ao cúmulo de 100usd/pessoa se beberes vinho.
Não é um país fácil mas é um repleto de oportunidades. Estando no sítio certo à hora certa sim - trabalhos com muitos players por exemplo - no meio do mato a abrir estradas não.
Gastas com facilidade 1000 a 1500usd numa vida comedida dependendo claro está do que a empresa assuma. Tudo o resto capitalizas. Depois de teres visto de trabalho podes levar 10.000usd em cada ida a PT. O ideal é que te depositem diretamente em euros aí em casa...
Conselhos:
1) vai a todas as entrevistas possíveis e imaginárias.
2) tenta ficar na Europa mesmo q tenhas q mudar de profissão.
3) pega nas pranchas e vai passar um mês à Autrália enquanto turista e tenta ir a entrevistas localmente
O surf... tb está no livro. LOL
Mas sim, é muito bom mesmo... longboard no verão e ondas com centenas de metros no Cacimbo... água quente e pouco crowd com exceção de CLedo onde em todo o caso, qd está bom (grande) os aprendizes desaparecem.
Abraço e boa sorte,
Rudas _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Jan 24, 2009 Mensagens: 1534 Local/Origem: Poça / Azarujinha
Colocada: Ter, 27 Mai 2014 - 9:26 Assunto:
Ainda me lembro de falar contigo e estares acagaçado com essa possibilidade de teres de sair do país e levares a tua família contigo.
São muito mais raros os casos de pessoas que saem de Portugal e se arrependem do que o oposto.
Parabéns pelo passo de coragem e pelo êxito.
Sobre a questão dos vistos, está agora na "moda" aos retornados pedir a nacionalidade de nascimento. Eu vou ver se consigo a minha nacionalidade Moçambicana. Existe uma regra de estratégia que diz que quantas mais nacionalidades, residências, papelada melhor, pois podemos decidir em cada caso a melhor.
Eu estou em Portugal por uma falha do destino (sempre trabalhei fora), e agora estou em pulgas para sair, mas vou rumar mais a norte. O Verão vou passa-lo a Londres onde 1 mês de vida profissional equivalem a um ano em Portugal, mais agora que os cérebros estão a abandonar o jardim à beira mar. Mas estou de olho na Ásia. Portugal tem uma qualidade de vida excepcional e tem muitos bons profissionais em certas áreas (tecnologia e marketing, por exemplo) mas está atrasadíssimo noutras como a gestão a economia e a política e sem essas é difícil progredir-se profissionalmente.
O Atitute tem de criar uma área só para expatriados
Registo: Oct 06, 2003 Mensagens: 1480 Local/Origem: Charneca da Caparica
Colocada: Ter, 27 Mai 2014 - 10:28 Assunto:
Grand Master Rudas, ler estes teus posts permite-me duas coisas: uma é saber que nem mesmo a mãe África te doma e a outra é saber que apesar das adversidades, estás a conseguir dar a volta por cima. Fico particularmente contente, camarada.
Não sei se, entre as contenções orçamentais e as prioridades da lista de viajem, alguma vez pisarei essa terra que vais desbravando tão intrepidamente... mas a continuares assim, é coisa para respnder ao tipo do SEF Angolano que estou na guest list do Rudas e ele reencaminhar-me para a pickup surfística com lugar de estacionamento ao lado da limo "dos Santos"
Agora, seja aí ou aqui, da próxima vez que estivermos juntos não te safas da dedicatória na 1ª edição autografada!
Abraço,
Pinto _________________ A tentar ver a vida por um canudo...
Falar sobre culturas dá horas da horas de conversa.
Só uns factos curiosos sobre a Austrália contados por um amigo que está em Sidney à 5 anos.
- O voto é obrigatório, se não votares pagas multa
- As inspecções aos carros é um gajo que olha para o carro e assina o papel. Vê-se montes de carros com fita daquela cinzenta a segurar a chaparia.
- Também lá há crise, mas segundo ele é porque os aussies são os maiores baldas que há, fartam-se de faltar ao trabalho para ir para a praia
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qua, 28 Mai 2014 - 12:59 Assunto:
Helder5 escreveu:
http://youtu.be/ni_xEeAAle0
São estas as esquerdas que nunca mais acabam?! Nossa
Ok que estas não são para marrequeiros..lol
Olá
As esquerdas que andaram a circular na internet e popularizadas pelo Kepa Acero e companhia são lá de baixo do Namibe, província SW de Angola. Cerca de 1000km de carro desde aqui de Luanda. A água é bem mais fria e a fauna marítima já tem dentes bem mais afiados. Ondas mais power e buraco pois como referi anteriormente, o swell vem de Sul.
A acessibilidade é terrífrica pelo q surfar no paraíso é relativo qd se te cortares seriamente nalguma rocha ou quilha poderá significar q já foste.
As que já surfei com centenas de metros e te confesso me rebentaram completamente os joelhos e abdominais foram na sobejamente conhecida praia dos surfistas ou Cabo Ledo. Nós dizemos que é perto mas sempre são 140km...
Sexta feira irá funcionar uma onda tb kilométrica na ilha do Mussulo (é uma península) chamada Buraco.
A explicação para as imensas esquerdas compridas é simples:
- uma feliz conjugação de swell completamente de Sul com baias bem recortadas fazem com que a onda não rebente para a praia mas ao longo da mesma.
O normal é entrares diretamente para o pico com uma curta remada, e depois fazeres uma longa caminhada ao longo da baia de volta ao mesmo.
O inconveniente é que qd o mar cresce bastante normalmente as correntes são fortes e tens q surfar deste modo:
- esperas na areia ou rochas, vês as linhas a entrar, remas e colocas-te no pico e apanhas uma das do set... se não apanhares sais e voltas a posicionar-te.
Abraço,
Rudas _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Jan 18, 2011 Mensagens: 47 Local/Origem: Esposende/Felgueiras
Colocada: Qua, 28 Mai 2014 - 14:50 Assunto:
É sempre um prazer ter uma lição destas.
Tenho a sensação que era gajo de te ficar a ouvir("ler") durante horas.
Abraço e sempre que poderes partilha basicamente o que quiseres aqui com o pessoal..
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qui, 29 Mai 2014 - 10:37 Assunto:
Abreijos a todos e às primas, que poderão trazer ao próximo meeting, dado que se o programado se mantiver, este Natal já o vou passar a Portugal.
Eu e o Presley fazemos sempre um encontro onde normalmente os outros foristas todos se vão juntando pelo q reitero, tragam-nas pois eu quero vender 30 livros de uma assentada só para poder ir amortizando a minha dívida à Editora Chiado.
Não se surfa e a maior parte do q se conta é mentira mas divertimo-nos na mesma pois podemos falar mal uns dos outros de forma mais generosa.
Este fds que vem vai dar um surf de excelência pois será o primeiro grande swell do Cacimbo. A água ainda não arrefeceu muito pelo que se aconselha dose avantajada de protetor solar. Apareçam...
Como sei que a grande parte dos que aqui estão, me lêm e surfam vão ter que vestir pelo menos um 3/2mm, numa de solidariedade por parte de nós, os que se distanciaram rumo a sul ou outras paragens de águas cálidas, cá fica para imprimir e ler ao serão dps do Telejornal enquanto o Costa se prepara para flagelar o Seguro: _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qui, 29 Mai 2014 - 10:45 Assunto:
SURF, FADO E SAUDADE
Dizem por aí os entendidos que não há tradução para a palavra 'saudade'.
No entanto o sentimento é comum a todos independentemente da bandeira, os que se afastam e os que ficam, os que em inglês dizem 'I miss you' e os que em português sentem aquele vazio.
Nós surfistas sempre aprendemos a nos afastar dos demais. Viajar faz parte do nosso quotidiano: outras ondas, novos line-ups, melhores praias e águas mais cristalinas. E surfar, pelo menos no meu caso, significa muitas vezes um ato de isolamento e reflexão daí sempre vir defendendo que surfar sozinho poderá ser perigoso mas é no meu entender indispensável.
Somando a tudo isto asseguro-te que emigrar é lixado. Deverá ser mais ainda para aqueles que o fazem para países sem surf.
No meu caso a parte chata é que tudo rebenta para a esquerda mas o remanescente é excelente. Na Indonésia iria sofrer com o crowd e poluição, na Austrália com o crowd e berros na água. Aqui em Angola apenas sofro com a saudade.
O surf por aqui surge, dizem os mesmos entendidos, atrasado ou melhor, tecnicamente retardado. Eu vejo as coisas de outra forma: as praias surgem isoladas, sem gente e as ondas partem sós. Não há surfistas e os poucos que existem cumprimentam-se. O material técnico é o possível pelo que não há corrida desenfreada às mais recentes invenções capitalistas ou pranchas de sonho. As pranchas por cá querem-se resistentes.
Sempre que me sento no line up de Cabo Ledo, aproveito para apreciar o recorte das arribas e a vegetação local que as cobre, em tudo diferente da minha Santa Cruz ou dos picos rochosos um pouco mais a Norte onde solitariamente tantas vezes me realizei enquanto surfista.
A água quente que me afaga os pés e pernas e os pássaros tentam substituir a água fresca e as gaivotas. As direitas geladas e poderosas ainda persistem no meu imaginário mas cada vez mais esbatidas pelas esquerdas quilométricas dos diversos picos angolanos. A simetria do hemisfério sul face à aleatoriedade e faceta indomável do Oceano Atlântico quando a norte do Equador.
Mas sinto falta de tudo: dos meus amigos de sempre, do cheiro a maresia e das pranchas mais leves que não têm que compensar o tipo de onda. De sair de água e percorrer só as falésias sem olhar para o lixo respirando apenas, rumo ao próximo prato de lulas grelhadas ou peixe fresco a preço convidativo.
Em Portugal vivi em toda a plenitude o que um surfista do oeste pode usufruir. Surfava apenas nos picos que me apetecia, em pról das marés, do swell e principalmente durante a semana. O material e necessário carro eram subsidiados e apenas me preocupava com o chegar a casa a tempo de apanhar os putos na escola, dar-lhes o banho e preparar a janta.
No entanto e embora feliz, sentia-me afastado do país e num permanente countdown.
Sufocado com as medidas impostas, as sobretaxas e irritado pela minha impotência face a tudo isto. Considerava-me miserável enquanto profissional inútil. Mas preenchido enquanto surfista e isso permitiu-me ganhar alento para partir seguro rumo a um destino que se adivinhava atróz.
O fado triste dos portugueses parece-me agora relativo. Aprecio a sua musicalidade e envolvência mas os clamores por melhores dias e todos os queixumes soam-me a desnecessários e pouco fundamentados.
Certo dia surfava na minha amada Praia Azul. O vento entrou e o crowd foi-se amontoando pois o típico surfista português sofre do síndrome da manada: só entra onde já existirem outros membros da sua espécie espezinhando todo o fator aventura associado ao nosso modo de vida.
A meio da manhã saí e rumei à Consolação onde uma escola de surf e mais alguns locais disputavam as poucas ondas que entravam. Desci ao Batelo e mais de dez surfistas acotovelavam-se num point break bem definido mas pouco consistente face à escassez do período e maré pouco acertada – ali não se surfa de maré cheia. Estacionei o carro e desci a falésia para o lado Sul, passando propositadamente com os velhos merrel por dentro do mini riacho de água cristalina que descia rumo ao mar.
Fato ao sol e estiquei-me um pouco sobre as pedras onde esperei cerca de meia hora para que as Piranhas começassem a acertar pois a previsão dava o swell a rodar de Norte para Oeste e a diminuir ao longo do dia. Acabei por cochilar uns minutos que me pareceram eternos.
Quando entrei sozinho já as ondas rolavam bancada fora com um drop ainda demasiado proeminente mas com a maré a vazar tudo se conjugou e o leve offshore mantinha as longas paredes em pé e à espera que as minhas quilhas e rails as trilhassem. A cereja no topo do bolo era um chapelinho ocasional na última secção de inside. Surfei até à exaustão e regressei feliz escutando o meu fadinho no caminho para casa.
Noutro dia mais adiante, voltava das províncias bastante cansado e inventei uma qualquer desculpa para dar uso à prancha que jazia escondida nos lugares de trás da pick-up. Calor sufocante e sem AC ouvira falar de um pico mágico junto ao Sumbe. Dormi pelo Lobito e ainda de noite arranquei rumo a Luanda com o espírito de aventura em modo ON.
Uma coisa é ir a uma praia onde o telemóvel que tens no carro chama o INEM. Outra bem diferente é percorreres quilómetros de picada sem destino certo, companhia e cobertura de rede num país onde há INEM nas cidades.
Voei no entanto sobre todos os buracos e desci ribanceiras deixando para mais tarde a preocupação se as conseguiria subir no caminho de regresso. Pelo caminho dei boleia a alguns nativos que me asseguraram viver numa aldeia onde as ondas partem ‘durante muito tempo’.
Deixei-os no lugarejo e sem atropelar porcos ou cães segui para norte por mais um par de quilómetros e as lajes surgiram conforme prometido com uma bela esquerda a rolar levantada e de forma repetida. Surfei por horas e nem o onshore me demoveu de mais uma surfadazita sem shop ou calções. É assim que materializo a forma mais despida que um surfista pode tentar alcançar. Depois entra a questão da mente vazia e espírito relaxado e coisas que tal.
Certo é que ouvi o meu fadinho ao longo dos 450km que ainda me separavam de Luanda onde cheguei em modo morto vivo mas feliz.
No entanto eu quero regressar às minhas águas geladas e à fresca nortada. Às ondas power e às remadas por vezes inglórias face às correntes que inopinadamente surgiam. Mas regressarei quando não precisar do sistema, quando puder novamente surfar relaxado, sem ter que provar nada a ninguém e de seguida conseguir apreciar um belo fado com um sorriso nos lábios.
Emigrar nem para nós surfistas é coisa fácil.
Permanecemos sempre divididos apesar de realmente felizes nos dois lineups que aqui surfámos juntos, no entanto vai por mim:
- a saudade digere-se melhor se servida salgada. _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Sex, 30 Mai 2014 - 16:00 Assunto:
jbs escreveu:
Quando quiseres volta, que o Passo Coelho, já te perdoou!!
Quando o Passos Coelho ler o 'Vem Só' certamente não poderei regressar com tanto processo jurídico, calúnia e difamação à conta dos parágrafos que lhe dediquei a ele e aos seus amigos... _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
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